Pela vida me vejo e esqueço
e procuro a vida que não vejo.
O relógio pisca, pisca, pisca...
A água do café ferve num turbilhão caótico
E por um único instante esqueço
Que é manhã de manhã e estou assustado.
Todos as dores perfazem o tempo que falta depois do alvorecer.
Acendo um cigarro e respiro a tarde
que o alvorecer sufocou com seus segundos
Preparo um back pra mais tarde,
E me pergunto se não seria melhor
Saber o que é maravilhoso?
Perguntas que passam
Que ficam e piscam
Em meu peito cheio
Abarrotado feito armário que não abre
Que se desmancha em pequenos cacos
Estilhaçados pelo cansaço d’alma
e espalhados pela cama.
Assim, mesmo assim
o relógio pisca enquanto olho meu rosto e escovo os dentes.
É preciso entrar na vida!
É nela que procuro... é nela que desato a chorar e berrar e clamar
que existe o amor
Este que rouba o cansaço
Que se entrega entre os vãos
Que se aquece como um agasalho pendurado e esquecido
No mesmo armário abarrotado de lembranças
Escuto a voz, o som doce que embalava o sono,
Zunindo, atravessando o espaço sem fim
Sinto sua alma ao meu lado
O lado vazio preenchido pelo cigarro
Pelo back, pela cerveja seca em meu copo
Pelo som que se espalha no doce céu escurecido
Nosso peito é porto
e todo porto tem história, lembranças...
barcos que não retornam
barcos que vem sempre
com o vento do acaso.
Poesia escrita em conjunto com meu grande e querido amigo Fá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário